quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Apaixonada pelo vento

Apaixonada pelo vento

Vejo as inúmeras paixões maquinadas pela sétima arte, pelas telas domésticas, mas poucas com a intensidade das que temos na adolescência. Parece que cada pequeno movimento com quem amamos leva-nos à quase inconsciência de prazer. Mas o prazer precisa ser lento, precisa ir tocando aos poucos cada degrau da intimidade... senão não tem graça, queima etapas da construção da paixão.

Nos filmes, ainda derramam um pouco mais desse mel lento, denso que custa a chegar à boca. Embora inúmeras críticas não reconheçam esse processo no filme Crepúsculo, deixei-me embalar pelo trecho romântico que a narrativa mostra. A impossibilidade, o desejo que aumenta a cada segundo, a inconsciência, a irracionalidade, todos são elementos que nos fazem de novo voltar às maiores emoções vividas. E não as tendo, se já passamos da oportunidade, apaixonamo-nos até pelo vento.

É um reviver sem elementos vivos, é um frio na barriga sem o encontro escondido ou arriscado. Mesmo no Crepúsculo de nossas vidas, todo ser humano devia ter a obrigação de sentir para sempre essa emoção. A insensibilidade pelo comodismo ou pelas circunstâncias difíceis que a vida nos apresenta não pode se instalar na alma em tempo algum. Simplesmente porque a melhor coisa da vida é sentir. E com total intensidade.

Ainda que as grandes emoções com o companheiro de tantos anos não sejam tão arrebatadoras, essa explosão precisa continuar, mesmo que seja só diante da natureza. Uma rajada de vento, muitas vezes, levanta-nos a cabeça, sacode e arrepia o corpo como foi um dia.

No entanto, a própria sociedade julga que impulso demais provoca o tombo... das relações estáveis, das relações familiares e até das com amigos que tenham uma idade em que alguns arroubos já não podem ser manifestos. Aí, o ser humano entristece, acha-se ainda mais velho, mais tosco, mais ridículo que a própria regra social. E está tudo acabado: os sorrisos, os olhares, as taquicardias, o arrepio, o impacto da paixão.

Se eu fosse Deus, metia um antibloqueador de paixão nas pessoas. Assim todas elas continuariam eternamente a sentir o magma dos vulcões se derramar por todas as veias... e todo mundo ia descobrir que dinheiro nenhum compra esse êxtase. Nenhum bem material se aproxima de tamanha felicidade. E os ladrões iam desistir de roubar, e os chefes iam sorrir o tempo todo, e as professorinhas iam se sentar no chão e aprender com seus alunos, e o homem nunca mais bateria numa mulher. E a mulher nunca mais reclamaria de seu homem. Porque assim é que é quem se apaixona. Nem que seja pelo vento.