quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mosaico macabro

Mosaico macabro
"Se eu vi mais longe, foi por estar de pé
sobre ombros de gigantes." Isaac Newton

Não é à toa que abrir escola ficou mais fácil que abrir boteco. Pudera! É uma fábrica de dinheiro que, bem “administrada”, multiplica o capital - o que não é nada complicado depois que aluno virou mercadoria e professor virou massa de manobra contribuidora do enriquecimento ilícito de tantos espertalhões que se dizem educadores.
Eu explico. A maioria das pessoas não sabe que um significativo número de escolas particulares brasileiras contrata professores, muitas vezes, sem registro na carteira de trabalho, paga a maior parte do salário “por fora”, o que caracteriza um drible fantástico nos impostos que deviam pagar, e compromete sobremaneira a aposentadoria de um trabalhador que virou um nada.
O professor, como troco justo ao que é explorado, finge que ensina, o aluno, que não encontra qualquer afinidade com o saber, finge que aprende, e, no final das contas, todos fingem que existe um belo trabalho de ensino-aprendizagem porque o prédio é lindo, os equipamentos enchem os olhos e os professores posam de pessoas felizes e realizadas como se o seu papel tivesse sido cumprido.
O fato é que tudo que é sufocado, e ainda por cima sem lucro para todos, uma hora começa a apodrecer. E o mau cheiro já começou: alunos não respeitam ninguém dentro da instituição (e não há por que respeitar), professores perdem o juízo e partem para briga judicial com as escolas, ou se envolvem em atos mais sérios como matar donos de escola – coisa que, aliás, já se tem notícia -, alunos agridem colegas e até professores, sem que ninguém possa pôr a boca no trombone e dizer para o mundo que isso é fato; por fim, pais perdem a noção do verdadeiro estágio educacional em que seus filhos estão, visto que o que chamam de avaliação é um mero blefe dentre tantos outros que compõem esse mosaico macabro.
Ninguém consegue mentir o tempo todo e para todos. A sociedade já começou a ver o tamanho do buraco moral e profissional que as mais lindas escolas apresentam. Nem preciso falar da escola pública. Essa já se destruiu a tal ponto, e no mundo todo, que nos EUA uma escola passou a desconsiderar esse nome “escola”, preferindo chamar aquilo de espaço de aprendizagem. Quem sabe assim a vergonha do que representa a escola formal se dissipe e alguém se digne a ir ali para estudar.
Diante dessa realidade, o que resta é exaltar talentos natos de jovens que manifestam uma habilidade extraordinária na música, na matemática ou em qualquer outra área. Ficou claro que notícia mesmo, só nesses casos. E, como dá IBOPE, as grandes agressões ou situações como crianças de 5 e 6 anos planejando assassinar a professora é que ganham espaço. Até Brasília, não só pela podridão política, mas agora pelos escândalos de brigas violentas em escola, é manchete de vez em quando.
Quando se eliminou a exigência do respeito à etiqueta (pequena ética), eliminou-se também a importância dos grandes conceitos éticos, que se destinavam à harmônica convivência entre as pessoas.
Está certo que a ética é uma morada em constante construção, mas pelo menos todos concordavam que os tijolos eram indispensáveis. Embora a decoração e as cores possam não constituir consenso de todos os seres humanos, não é possível que desejem habitar uma ruína cujas paredes não tenham reboque e as janelas sejam usadas como portas.
Por fim, o golpe mortal desferido contra a educação veio da própria sociedade (lar, igreja, centros de convivência de qualquer ordem), que ignorou a etiqueta, a ética e a vida. Soltou todas as rédeas que impunham limites aos acordos, diálogos e ações, para encontrar a única fonte de satisfação: o prazer. O prazer a qualquer custo revirou a tecnologia em vício e o homem em poço sem fundo de intolerância. O resultado não poderia ser outro senão o reflexo do macrossistema em um microssistema chamado escola.
Dessa reflexão pode-se imaginar qual futuro nos espera. Cabe a cada um consertar a sua própria casa e a si mesmo, em primeiro lugar, como bem nos recomenda Confúcio.