Crônicas do Tumulto
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Que dia é hoje?
domingo, 22 de julho de 2012
NOSSA COR
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Animais em extinção
Animais em extinção
Arara-azul-grande
Caixu-preto
Galo-de- serra
Gato-palheiro
Jacaré-do-papo-amarelo
Jaguatirica
Mico-leão-dourado
Onça-pintada
Onça-preta
Papagaio-do-mangue
Preguiça-real
Suçuarana
Urubu-rei
7 tipos de aranha
Caracol
Minhoca
Minhocuçu
Besouro
Abelha
Formiga Quemquém
Saúva preta
Borboleta
Mariposa
Libélula
Sapo
Perereca
Rãnzinha
Jibóia
Camaleãozinho
Lagartinho-do-cipó
Lagartixa-da-areia
Jararaca
Cágado
Tartaruga
Pato-mergulhão
Beija-flor-das-costas-violetas
Pica-pau
Gavião-cinza
Águia-cinzenta
Araponga
Tico-tico-do-campo
Papagaio
Cervo-do-pantanal
Lobo-guará
Ariranha
Baleia
Boto-amarelo
Morcego
Sagüi
Macaco-prego
Tamanduá-bandeira
Quem não viu?
Quem não viu?
Arara-azul-grande
Papagaio-do-mangue?
Suçuarana divina
Sete aranhas
Sete pecados
Quem não viu, azar!
Veja o pouco que sobrar!
Onça-pintada, Onça-preta
Urubu-rei, caracol
Todos eles sem sol, no sol?
Pato-mergulhão
Mico-leão-dourado,
Quem não viu, azar!
Veja o pouco que sobrar!
Tudo largado
Perigo iminente
vida latente
caixu-preto, cágado
beetle desprezado?
Quem não viu, azar!
Veja o pouco que sobrar!
Jacaré-do-papo-amarelo
Numa preguiça-real?
A lagartixa-da-areia
Em pleno carnaval?
A borboleta, a mariposa
O lagartinho-do-cipó
O lobo guará, a baleia?
E, no olho do anzol, o nó?
Quem não viu, azar!
Veja o pouco que sobrar!
Galo-de- serra, Gato-palheiro
Jararaca, pica-pau
Tartaruga, jibóia
Que na mata nem faz mal?
Ariranha, boto-amarelo,
Morcego, sagüi
Cervo-do-pantanal
E o homem daqui?
Quem não viu, azar!
Veja o pouco que sobrar!
Na cruz vão pregar mais um
Como fizeram com Araponga
E vai-se ouvir mais um tico-tico-do-campo
Xingando o macaco-prego
Quem não viu que viver dói tanto...
Quem não viu, azar!
Veja o pouco que sobrar!
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Estações Humanas
Estações Humanas
Enquanto as flores abrem-se para a primavera
As folhas perdem espaço diante do colorido exuberante
Os troncos são cobertos
As raízes invisíveis
Mas, à chegada do outono,
Sem flores,
amarelo de folhas vira ouro,
o marrom do tronco dá a silhueta,
e a curva das raízes são caminhos.
Só, então, vemos: cada estação tem seu dom
E cada dom, seu brilho e vida
Em seguida esquecemos tudo
Para olhar o sol
E só a sombra importa no verão,
E só o abrigo das copas valem no inverno
É que o homem também tem estações
E cada uma delas uma visão
Um sentimento
Um senão
Uma letra de música a ser trabalhada
Caçadores do mapa do inferno
Enquanto a eternidade bate à porta
Vamos matando a vida
E a juventude eterna
É no mínimo bizarra
Enquanto se enterra o planeta
E se extermina o outro
Quanto mais irracional a vida
Mais parece boa
Quem quer o mapa do inferno?
Candidate-se à eternidade!
Viva jovem pra sempre
E enterre a realidade
Bem ali já marcaram um x
Na tua cabeça
Pra todo o sempre linda
Sem nenhuma novidade
Viver sem ter medo,
Sem esperar a dor da idade
Será com certeza mais um crime
Contra toda a humanidade
Pra que a vida surpreenda
É preciso morrer
Quebrar rotinas
Criar passados
Que não se refazem
É preciso voltar atrás
Inexperiente e sonado
Desprevenido e incapaz
terça-feira, 21 de junho de 2011
Luís Antônio – Gabriela
Luís Antônio – Gabriela
É fato que não gosto de ver cenas de sofrimento, não tenho tendência sádica. Sou muito mais masoquista. Por isso relutei um pouco em assistir ao espetáculo Luís Antônio – Gabriela, dirigido por Nelson Baskerville, e apresentado pela Cia. Mungunzá de teatro. É que já tive o desprazer de ver muitos sofrimentos nesses 51 anos e busquei uma postura mais distante da dor, mesmo que ela seja do outro. Egoísmo? Não, muito mais proteção para minha mente que já anda fragilizada pra certas coisas.
Mas fui. Extremamente insegura quanto ao que o espetáculo ia me inspirar na emoção. E me inspirou, porém, o que eu não acreditava mais: a corajosa postura de toda a equipe em refletir sobre a situação real que viveu um travesti e sua família;deu-me a impressão de que eu estava, até então, abstêmia de sentir, só para não admitir que a vida é mesmo feita de ações equivocadas, intolerantes, e reações dolorosamente de amadurecimento que ajuda a fechar feridas.
Nelson, irmão de Luís Antônio, revive na peça não só os fatos, mas cria uma linguagem para revelá-los extremamente inovadora, capaz de nos colocar no centro do palco, estando sentados diante dele. A alma caminha no cenário, devora as falas, arrepia-se diante do que mais deveríamos estar habituados: a verdade. Ocorre que não estamos. E não estamos também preparados para sentir a verdade por meio dessa forma de se comunicar. É que o espetáculo surpreende segundo a segundo pelo trabalho de símbolos que criaram. Tudo é simbolizado por um objeto, um figurino, uma luz, uma palavra, um bolo de palavras que se esfaqueiam diante do caos e da verdade. Eu nunca tinha visto um time teatral conseguir chegar a tanto. Mais que o fato, o símbolo atinge a emoção. E atingiram.
Não sei se todo mundo que assistiu ao espetáculo percebeu que alguma coisa nova está surgindo, mas está. Dentro de um profissionalismo brilhante, a peça não poupa os atores de mergulhar na personagem, na situação, na atmosfera, na vida. Mais que representam, vivem e fazem-nos viver também.
Sou de uma geração que lidou muito mal com as questões que envolvem orientação sexual diferente da gente. Fomos ensinados a rejeitar, a ridicularizar, menos aceitar ou pensar sobre. Pensar já era pecado. Não se podia fazer uma reflexão mais filosófica, orgânica, biológica sobre a razão de existirem os diferentes. E foi ali, sentada na plateia do espetáculo Luís Antônio – Gabriela, que tive a exata dimensão do que ainda não tinha percebido, aprendido e pensado.
Não sofri exatamente. As cenas não provocam sentimentos de piedade, raiva, ou irritação. Elas provocam vergonha em quem ainda não consegue superar a intolerância e a profunda reflexão sobre nós mesmos. Não há como não nos colocar dentro da fantasia e dos simbolismos apresentados.
Obrigada a todos vocês por terem me vencido dos medos que me sufocaram antes de sentar-me diante de Luís Antônio – Gabriela. Meus queridos Marquinho, Lucas, Verônica e todos os outros cujos nomes ainda não domino bem, enxerguem o portal que estão abrindo nesse momento em que a arte está tão escondida. Vocês vão escancarar um novo estilo, uma nova etapa da arte teatral, sem exagero nenhum. Parabéns, do fundo do meu coração.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Mereço o que é único
Mereço o que é único
porque também sou única
e enquanto aprecio a arte
a arte decifra o mundo
em cores, linhas, sonhos
como em meus olhos a ponho.
Mereço exclusividade
sem preço nem idade
sem modos numa festa
Mereço uma verdade
que ninguém detesta
que contou a peça
de uma vida em mim
Mereço esse afago
diante do qual me calo
pelo perfume multicolor
Mereço um calor na sala
na vida, na estrada
de quem vai partir
e com o sol se pôr
Quero expor o que não vejo
por ora, não me desejo:
efeito da negação de mim
meu cabelo e nele a cor
despetala-se essa flor
Quero expor e me despejo
numa tela sem moldura
acredito que mereço
uma luz mais viva e pura
Mereço ser rainha,
que sou mãe e menininha
mereço ser coroada
que no trono sou amada
mereço ter um carinho
que aqueço inteira a vida
sem tirar nem pôr da história
reservada no destino
Mereço felicidade
que acolho um rei de ouro
quando durmo beijo-lhe os louros
quando acordo sou verdade.
Minha sala nua, merece uma tv
Crua de brilho, em pleno natal,
se alvoroça por merecer!
se for Sony full hd, solidão não resta
Minha sala é sua, e merece uma TV
Se não for por minha poesia
que seja porque vejo nela você
Sem Rosa nem Raimundo
Sem Rosa nem Raimundo
Enquanto as teclas me querem
Dizer velozmente o meu mundo
Tô mudo, editei a Rosa,
Formatei o Raimundo
Deletei meu coração
Tem ali um marca-passo
E toda a tela da emoção
Passo a passo, copiei
Depois que fiz um download
Da felicidade montada
Num flash da Criação
Gravei aquela piada
Raimundo tá lá no blog
A Rosa criou seu site
Dela tenho o endereço
Dele só um slide
Se eu me chamasse Raimundo
Vasto mundo não morria
Como me chamo Maria
E a rima cabia
Só dá pra mudar a fonte
E dar enter em Rosa Maria
Trabalhando em versos, só para variar
Ai! A mocidade!
Nem vê o que marca n’alma!
(tulipa, extrema fraqueza)
Ai! A mocidade!
Que vê tudo e vê nada,
Furtivamente, do mundo
Não tem como a mocidade,
Seus cantos,
Nem viagens,
Nem visons.
Não se volta à mocidade
Por que voltar se não existe?
E carícia do fogo,
Deleite e dor.
E investida, é desejo,
É tempo que não conclui intento.
É tão lento e veloz
Que desperta saudade
Ai! Mocidade!
Coisa velha, repetida, batida
Ferida de todas as gerações
Sensações, canções, estradas
Que por fim desemboca árida
Num deparo à realidade
Que consome, some em morte
Corte eterno, eternidade.
sexta-feira, 4 de março de 2011
Na ponta do iceberg
Aos olhos que não encantam ninguém
Não tem saída. Esquizofrênicos somos todos e todos pensam que vivem ao lado de um. Só não veem que ao seu lado há o seu próprio pânico e incompreensão do mundo. E no mundo, um outro bando de loucos – que me perdoem os corintianos pelo uso de sua antonomásia – que também não se sabem loucos.
É possível que não haja mesmo saída, mas o fato é que essa loucura em que todos estamos mergulhados nos faz acreditar piamente que a saída é logo ali, num comprimido mágico, numa macumba bem forte, numa bolada da loteria.
Não há mágica, não há números da sorte, não há medicação que responda o que a alma vem questionando desde que a vida veio a Terra. Mas, para consolo dos loucos, há quem estude essa nossa impaciência e há quem diga que “amanhã será outro dia”. Se for mesmo um dia novo, apenas o Sol nascerá à mesma hora e eu, talvez, acorde com a energia que o dia vai me exigir.
Parece coisa de louco? Parece-me que esse é o efeito real dos sistemas que o próprio louco implantou no planeta: não há prazer, há trabalho; não há verdade, há conveniência; não há amigos, há relações necessárias; não há conversa, há acordos; não há sequer Deus, há representantes Dele, e dos mais capacitados a negociar em Seu sagrado nome.
Não se vive o sistema, mas só se come o prato que se prepara; não se casa com o sistema e nem com ele se têm filhos, mas não se mora fora de seu teto, nem se dorme em cama que por ele não foi feita. O sistema não faz a minha nem a sua cabeça, mas degola-nos impiedosamente a guilhotina que o sistema artisticamente criou para impor a ordem e o progresso.
O sistema global e abrangente nos engoliu a alma, e mais, todas as outras que ainda virão para cá e nem imaginam o que as espera.
Sejamos, no entanto, esperançosos. O mundo é dos loucos! E espero, sinceramente, que algum deles faça a loucura de arrebentar com todos os sistemas e proibir a invenção de qualquer outro, embora corramos o risco de um outro maluco achar que proibir também é uma forma de sistematizar de novo mundo que então viveríamos.
Todos os riscos são as verdades que valem. Todas as precauções, mentiras grotescas e pálidas esperanças de um futuro qualquer. E é somente por isso que a humanidade continua construindo castelos de areia numa turbulenta ventania desértica. Não percebemos que tudo cai logo que pensamos ter concluído, e que a única construção que não é levada pelas intempéries é o pensamento do presente, o sentimento do presente, o desejo satisfeito agora e a proporção dessas três pérolas dentro das conchas humanas com quem partilhamos esse presente.