quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Que dia é hoje?



Que dia é hoje?

A casa em silêncio
Me acompanha a fumaça  do meu algoz
A xícara do café quente
O olhar que se vai sem rumo
Nunca vivi isso
Nunca vi silêncio tão fúnebre
Menos ainda dor tão fina, funda, seca
Acho que a morte deve ser assim
Gélida, fina, funda, seca, roxa
Insensível a tal ponto
Que dor  nem é mais dor
Dor é um vazio cheio de nada
Que devia estar doendo, gritando,
Brigando, cansando o dia da gente
Mas, se assim é e não é assado
Preciso fazer um novo começo sei lá do quê
Nascer de novo de útero eletrônico
Abdicar das entranhas e neurônios
Ficar com as memórias boas... que às vezes esqueço
E esquecer que fui oca, mas antes fui cheia,
E antes ainda fui nada.

domingo, 22 de julho de 2012

NOSSA COR


NOSSA COR

                                                                              LETRA:MÔNICA TAUNISSES
                                                                              MÚSICA: VALÉRIA FAJARDO


VIVER TÃO SÓ
É A MEDIDA QUE O TEMPO ME DEU
PRA SENTIR QUE EM MIM NÃO MORREU
SONHAR

ME DEIXA SER TEU
ME DEIXA VOLTAR
PRA DENTRO DO TEU OLHAR (BIS)

CRIAR POR NÓS
O INFINITO QUE O TEMPO É
FAZ VOLTAR TODO TOM
TALVEZ, NOSSA COR

ME DEIXA SER TEU
ME DEIXA VOLTAR
PRA DENTRO DO TEU OLHAR (BIS)

CORPOS A SÓS
PERFEITOS, PARTIDOS, INTEIROS,
BUSCANDO O MEU SONHO
QUE É TEU
QUE É TER VOCÊ MEU
PRAZER DE SE DAR

CORPOS A SÓS
PERFEITOS, PARTIDOS, INTEIROS,
BUSCANDO O MEU SONHO
QUE É TEU
QUE É TER VOCÊ MEU
PRAZER DE SE DAR
ENFIM.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Animais em extinção

Animais em extinção


Arara-azul-grande

Caixu-preto

Galo-de- serra

Gato-palheiro

Jacaré-do-papo-amarelo

Jaguatirica

Mico-leão-dourado

Onça-pintada

Onça-preta

Papagaio-do-mangue

Preguiça-real

Suçuarana

Urubu-rei

7 tipos de aranha

Caracol

Minhoca

Minhocuçu

Besouro

Abelha

Formiga Quemquém

Saúva preta

Borboleta

Mariposa

Libélula

Sapo

Perereca

Rãnzinha

Jibóia

Camaleãozinho

Lagartinho-do-cipó

Lagartixa-da-areia

Jararaca

Cágado

Tartaruga

Pato-mergulhão

Beija-flor-das-costas-violetas

Pica-pau

Gavião-cinza

Águia-cinzenta

Araponga

Tico-tico-do-campo

Papagaio

Cervo-do-pantanal

Lobo-guará

Ariranha

Baleia

Boto-amarelo

Morcego

Sagüi

Macaco-prego

Tamanduá-bandeira

Quem não viu?

Quem não viu?

Arara-azul-grande

Papagaio-do-mangue?

Suçuarana divina

Sete aranhas

Sete pecados

Quem não viu, azar!

Veja o pouco que sobrar!

Onça-pintada, Onça-preta

Urubu-rei, caracol

Todos eles sem sol, no sol?

Pato-mergulhão

Mico-leão-dourado,


Queimado por mãos de tubarão?

Quem não viu, azar!

Veja o pouco que sobrar!

Tudo largado

Perigo iminente

vida latente

caixu-preto, cágado

beetle desprezado?

Quem não viu, azar!

Veja o pouco que sobrar!

Jacaré-do-papo-amarelo

Numa preguiça-real?

A lagartixa-da-areia

Em pleno carnaval?

A borboleta, a mariposa

O lagartinho-do-cipó

O lobo guará, a baleia?

E, no olho do anzol, o nó?

Quem não viu, azar!

Veja o pouco que sobrar!

Galo-de- serra, Gato-palheiro

Jararaca, pica-pau

Tartaruga, jibóia

Que na mata nem faz mal?

Ariranha, boto-amarelo,

Morcego, sagüi

Cervo-do-pantanal

E o homem daqui?

Quem não viu, azar!

Veja o pouco que sobrar!

Na cruz vão pregar mais um

Como fizeram com Araponga

E vai-se ouvir mais um tico-tico-do-campo

Xingando o macaco-prego

Quem não viu que viver dói tanto...

Quem não viu, azar!

Veja o pouco que sobrar!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Estações Humanas

Estações Humanas

Enquanto as flores abrem-se para a primavera

As folhas perdem espaço diante do colorido exuberante

Os troncos são cobertos

As raízes invisíveis

Mas, à chegada do outono,

Sem flores,

amarelo de folhas vira ouro,

o marrom do tronco dá a silhueta,

e a curva das raízes são caminhos.

Só, então, vemos: cada estação tem seu dom

E cada dom, seu brilho e vida

Em seguida esquecemos tudo

Para olhar o sol

E só a sombra importa no verão,

E só o abrigo das copas valem no inverno

É que o homem também tem estações

E cada uma delas uma visão

Um sentimento

Um senão

Uma letra de música a ser trabalhada

Caçadores do mapa do inferno

Enquanto a eternidade bate à porta

Vamos matando a vida

E a juventude eterna

É no mínimo bizarra

Enquanto se enterra o planeta

E se extermina o outro

Quanto mais irracional a vida

Mais parece boa

Quem quer o mapa do inferno?

Candidate-se à eternidade!

Viva jovem pra sempre

E enterre a realidade

Bem ali já marcaram um x

Na tua cabeça

Pra todo o sempre linda

Sem nenhuma novidade

Viver sem ter medo,

Sem esperar a dor da idade

Será com certeza mais um crime

Contra toda a humanidade

Pra que a vida surpreenda

É preciso morrer

Quebrar rotinas

Criar passados

Que não se refazem

É preciso voltar atrás

Inexperiente e sonado

Desprevenido e incapaz

terça-feira, 21 de junho de 2011

Luís Antônio – Gabriela

Luís Antônio – Gabriela

É fato que não gosto de ver cenas de sofrimento, não tenho tendência sádica. Sou muito mais masoquista. Por isso relutei um pouco em assistir ao espetáculo Luís Antônio – Gabriela, dirigido por Nelson Baskerville, e apresentado pela Cia. Mungunzá de teatro. É que já tive o desprazer de ver muitos sofrimentos nesses 51 anos e busquei uma postura mais distante da dor, mesmo que ela seja do outro. Egoísmo? Não, muito mais proteção para minha mente que já anda fragilizada pra certas coisas.

Mas fui. Extremamente insegura quanto ao que o espetáculo ia me inspirar na emoção. E me inspirou, porém, o que eu não acreditava mais: a corajosa postura de toda a equipe em refletir sobre a situação real que viveu um travesti e sua família;deu-me a impressão de que eu estava, até então, abstêmia de sentir, só para não admitir que a vida é mesmo feita de ações equivocadas, intolerantes, e reações dolorosamente de amadurecimento que ajuda a fechar feridas.

Nelson, irmão de Luís Antônio, revive na peça não só os fatos, mas cria uma linguagem para revelá-los extremamente inovadora, capaz de nos colocar no centro do palco, estando sentados diante dele. A alma caminha no cenário, devora as falas, arrepia-se diante do que mais deveríamos estar habituados: a verdade. Ocorre que não estamos. E não estamos também preparados para sentir a verdade por meio dessa forma de se comunicar. É que o espetáculo surpreende segundo a segundo pelo trabalho de símbolos que criaram. Tudo é simbolizado por um objeto, um figurino, uma luz, uma palavra, um bolo de palavras que se esfaqueiam diante do caos e da verdade. Eu nunca tinha visto um time teatral conseguir chegar a tanto. Mais que o fato, o símbolo atinge a emoção. E atingiram.

Não sei se todo mundo que assistiu ao espetáculo percebeu que alguma coisa nova está surgindo, mas está. Dentro de um profissionalismo brilhante, a peça não poupa os atores de mergulhar na personagem, na situação, na atmosfera, na vida. Mais que representam, vivem e fazem-nos viver também.

Sou de uma geração que lidou muito mal com as questões que envolvem orientação sexual diferente da gente. Fomos ensinados a rejeitar, a ridicularizar, menos aceitar ou pensar sobre. Pensar já era pecado. Não se podia fazer uma reflexão mais filosófica, orgânica, biológica sobre a razão de existirem os diferentes. E foi ali, sentada na plateia do espetáculo Luís Antônio – Gabriela, que tive a exata dimensão do que ainda não tinha percebido, aprendido e pensado.

Não sofri exatamente. As cenas não provocam sentimentos de piedade, raiva, ou irritação. Elas provocam vergonha em quem ainda não consegue superar a intolerância e a profunda reflexão sobre nós mesmos. Não há como não nos colocar dentro da fantasia e dos simbolismos apresentados.

Obrigada a todos vocês por terem me vencido dos medos que me sufocaram antes de sentar-me diante de Luís Antônio – Gabriela. Meus queridos Marquinho, Lucas, Verônica e todos os outros cujos nomes ainda não domino bem, enxerguem o portal que estão abrindo nesse momento em que a arte está tão escondida. Vocês vão escancarar um novo estilo, uma nova etapa da arte teatral, sem exagero nenhum. Parabéns, do fundo do meu coração.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mereço o que é único

Mereço o que é único

Mereço o que é único

porque também sou única

e enquanto aprecio a arte

a arte decifra o mundo

em cores, linhas, sonhos

como em meus olhos a ponho.

Mereço exclusividade

sem preço nem idade

sem modos numa festa

Mereço uma verdade

que ninguém detesta

que contou a peça

de uma vida em mim

Mereço esse afago

diante do qual me calo

pelo perfume multicolor

Mereço um calor na sala

na vida, na estrada

de quem vai partir

e com o sol se pôr

Quero expor o que não vejo

por ora, não me desejo:

efeito da negação de mim

meu cabelo e nele a cor

despetala-se essa flor

Quero expor e me despejo

numa tela sem moldura

acredito que mereço

uma luz mais viva e pura

Mereço ser rainha,

que sou mãe e menininha

mereço ser coroada

que no trono sou amada

mereço ter um carinho

que aqueço inteira a vida

sem tirar nem pôr da história

reservada no destino

Mereço felicidade

que acolho um rei de ouro

quando durmo beijo-lhe os louros

quando acordo sou verdade.

Minha sala nua, merece uma tv

Crua de brilho, em pleno natal,

se alvoroça por merecer!

52 polegadas, nela a cor da festa

se for Sony full hd, solidão não resta

Minha sala é sua, e merece uma TV

Se não for por minha poesia

que seja porque vejo nela você

Sem Rosa nem Raimundo

Sem Rosa nem Raimundo

Enquanto as teclas me querem

Dizer velozmente o meu mundo

Tô mudo, editei a Rosa,

Formatei o Raimundo

Deletei meu coração

Tem ali um marca-passo

E toda a tela da emoção

Passo a passo, copiei

Depois que fiz um download

Da felicidade montada

Num flash da Criação

Gravei aquela piada

Raimundo tá lá no blog

A Rosa criou seu site

Dela tenho o endereço

Dele só um slide

Se eu me chamasse Raimundo

Vasto mundo não morria

Como me chamo Maria

E a rima cabia

Só dá pra mudar a fonte

E dar enter em Rosa Maria

Trabalhando em versos, só para variar

Rebento

Ai! A mocidade!
Nem vê o que marca n’alma!
(tulipa, extrema fraqueza)

Ai! A mocidade!
Que vê tudo e vê nada,
Furtivamente, do mundo

Não tem como a mocidade,
Seus cantos,
Nem viagens,
Nem visons.

Não se volta à mocidade
Por que voltar se não existe?
E carícia do fogo,
Deleite e dor.
E investida, é desejo,
É tempo que não conclui intento.
É tão lento e veloz
Que desperta saudade
Ai! Mocidade!
Coisa velha, repetida, batida
Ferida de todas as gerações
Sensações, canções, estradas
Que por fim desemboca árida
Num deparo à realidade
Que consome, some em morte
Corte eterno, eternidade.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Na ponta do iceberg

Na ponta do iceberg
Aos olhos que não encantam ninguém

Não tem saída. Esquizofrênicos somos todos e todos pensam que vivem ao lado de um. Só não veem que ao seu lado há o seu próprio pânico e incompreensão do mundo. E no mundo, um outro bando de loucos – que me perdoem os corintianos pelo uso de sua antonomásia – que também não se sabem loucos.
É possível que não haja mesmo saída, mas o fato é que essa loucura em que todos estamos mergulhados nos faz acreditar piamente que a saída é logo ali, num comprimido mágico, numa macumba bem forte, numa bolada da loteria.
Não há mágica, não há números da sorte, não há medicação que responda o que a alma vem questionando desde que a vida veio a Terra. Mas, para consolo dos loucos, há quem estude essa nossa impaciência e há quem diga que “amanhã será outro dia”. Se for mesmo um dia novo, apenas o Sol nascerá à mesma hora e eu, talvez, acorde com a energia que o dia vai me exigir.
Parece coisa de louco? Parece-me que esse é o efeito real dos sistemas que o próprio louco implantou no planeta: não há prazer, há trabalho; não há verdade, há conveniência; não há amigos, há relações necessárias; não há conversa, há acordos; não há sequer Deus, há representantes Dele, e dos mais capacitados a negociar em Seu sagrado nome.
Não se vive o sistema, mas só se come o prato que se prepara; não se casa com o sistema e nem com ele se têm filhos, mas não se mora fora de seu teto, nem se dorme em cama que por ele não foi feita. O sistema não faz a minha nem a sua cabeça, mas degola-nos impiedosamente a guilhotina que o sistema artisticamente criou para impor a ordem e o progresso.
O sistema global e abrangente nos engoliu a alma, e mais, todas as outras que ainda virão para cá e nem imaginam o que as espera.
Sejamos, no entanto, esperançosos. O mundo é dos loucos! E espero, sinceramente, que algum deles faça a loucura de arrebentar com todos os sistemas e proibir a invenção de qualquer outro, embora corramos o risco de um outro maluco achar que proibir também é uma forma de sistematizar de novo mundo que então viveríamos.
Todos os riscos são as verdades que valem. Todas as precauções, mentiras grotescas e pálidas esperanças de um futuro qualquer. E é somente por isso que a humanidade continua construindo castelos de areia numa turbulenta ventania desértica. Não percebemos que tudo cai logo que pensamos ter concluído, e que a única construção que não é levada pelas intempéries é o pensamento do presente, o sentimento do presente, o desejo satisfeito agora e a proporção dessas três pérolas dentro das conchas humanas com quem partilhamos esse presente.